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Endometriose é uma doença caracterizada pela presença de endométrio fora do útero. O endométrio é a camada que reveste internamente a cavidade uterina e é renovado mensalmente, quando não acontece a gravidez, por meio da descamação durante o fluxo menstrual. Em algumas situações este tecido, ao invés de ser eliminado, volta pelas trompas, alcança a cavidade pélvica e abdominal, gerando a endometriose.

A doença pode acometer diversos órgãos da pelve, como os ovários, as tubas, superfície do útero e órgãos não ginecológicos, como o intestino, a bexiga e os ureteres. Em casos extremos, apesar de ser muito raro, pode-se encontrar células de endométrio distante da pelve, como na pleura, pulmões e sistema nervoso central. As células do endométrio, na pelve, vão funcionar de forma semelhante as que estão normalmente revestindo o útero, isso quer dizer que elas vão “menstruar” também! E é essa menstruação no lugar errado a responsável por grande parte dos sintomas da doença.
Apesar de ser uma das doenças mais estudadas em ginecologia as causas ainda não estão bem definidas (leia mais em quais as causas).
Qual a idade mais frequente?
Em diversos livros podemos ler que endometriose é uma doença que acomete mulheres entre os 25 e 35 anos.
Entretanto,sabemos que o tempo entre o início dos sintomas e o diagnóstico definitivo da doença é de cerca de oito anos!
Portanto, se fazemos o diagnóstico com 25-35 anos e a doença já começou faz tempo!
Por isso, acredita-se que a endometriose , em muitos casos, começa na adolescência! O diagnóstico é que é tardio!
Jovens com cólicas menstruais de forte intensidade podem ter endometriose. É muito importante que façamos o diagnóstico e comecemos a tratar, antes que a doença progrida!
Entenda a doença: Tipos
A endometriose pode se apresentar de algumas formas distintas:
Endometriose profunda:
É uma forma avançada da doença. Acomete ligamentos ou outros órgãos. Não é infrequente o acometimento intestinal. A resposta ao tratamento medicamentoso não é tão boa quanto a das formas superficiais. A cirurgia, geralmente, é de grande porte, na qual ressecção de parte do intestino ou da bexiga pode ser necessária.
Ovariana:
É o chamado endometrioma de ovário. As células endometriais quando voltam através das tubas conseguem se alojar dentro de um pequeno cisto no ovário. A partir daí elas começam a se dividir e “atapetam” todo o cisto. Ao final de cada ciclo menstrual estas células menstruam para dentro deste cisto e com o passar do tempo vão preenchendo-o de sangue. Devido a isto o endometrioma de ovário cresce vagarosamente e pode atingir tamanhos surpreendentes. O problema desta forma de endometriose é que, com o crescimento parte do ovário sadio vai sendo destruída, o que pode comprometer a fertilidade futura! O tratamento é, na maioria das vezes, cirúrgico e o cisto deve ser removido ou cauterizado. Em casos onde o tamanho é muito grande, todo ovário já foi comprometido impõe-se a remoção do ovário (ooforectomia).
Septo reto-vaginal:
É extremamente rara, acomete o tecido que fica entre o reto e a vagina. Sua origem ainda é controversa, entretanto, acredita-se que pode derivar da transformação de algum resquício da formação dos órgãos genitais em células endometriais. O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico.
Peritoneal:
É de longe a forma mais comum da doença! Acomete o peritônio, a membrana que recobre toda a pelve e os órgãos pélvicos e abdominais. Pode ser superficial ou profunda, chamamos de profunda quando invade a superfície peritoneal por mais de 5mm. A profunda, também conhecida como infiltrativa é encontrada, com freqüência, na parte final do intestino grosso (reto e sigmóide) e parede da bexiga. Cerca de 20-30% das mulheres com endometriose vão apresentar a forma profunda. O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico.
Endometriose de parede:
Esta forma da doença aparece após uma cirurgia uterina, seja uma cesárea, histerectomia ou miomectomia. Durante a cirurgia, células do endométrio acabam ficando na cicatriz cirúrgica e ali proliferam e formam um nódulo de endometriose. O quadro clínico consiste em um nódulo abaixo de uma cicatriz cirúrgica que dói e aumenta durante o fluxo menstrual! O tratamento é sempre cirúrgico e consiste na remoção do nódulo. De forma contrária ao que fazemos nos outros tipos de endometriose esta não precisa de complementação medicamentosa após a cirurgia e tampouco da prevenção da recidiva.
Endometriose pulmonar ou pleural:
É extremamente rara. Ainda não sabemos com as células endometriais vão parar tão longe! Talvez elas entrem em um vaso sanguíneo ou linfático e cheguem aos pulmões. A mulher com endometriose pulmonar pode se queixar de tosse com sangue durante o fluxo menstrual.
Quais suas causas?
As causas da endometriose, apesar de inúmeros estudos, ainda são pouco conhecidas, podemos dividir as explicações em duas categorias que vamos chamar de primeiras teorias e aspectos atuais.
Primeiras Teorias
As primeiras explicações sobre o porquê do aparecimento da endometriose foram dadas por dois médicos, Cullen e Meyer, que no final do século XIX propuseram que as células do peritônio (membrana que reveste a pelve e a maioria dos órgãos) poderiam sofrer uma transformação em células endometriais. Esta teoria jamais foi comprovada, porém foi utilizada para explicar o aparecimento da doença em mulheres que não menstruavam.
Em 1925 surgiu a primeira teoria que foi cientificamente provada. Coube a Sampsom descrever o fenômeno da menstruação retrógrada. Este autor observou que, durante a menstruação, células do endométrio (camada que reveste a cavidade do útero e que é eliminada todo mês com a menstruação) voltavam através das tubas e caiam dentro da pelve. A partir daí Sampsom propôs que a causa da endometriose seria o refluxo do tecido endometrial através das tubas durante o fluxo menstrual, ou seja, quando a mulher menstrua um pouco do sangue, ao invés de ser eliminado faz o caminho inverso, e sobe pelas tubas se implantando na membrana que recobre a pelve. Esta teoria foi usada durante quase a totalidade do século passado para explicar a doença. Entretanto, na década de 80 do século passado, descobriu-se que 90% de todas as mulheres têm menstruação retrógrada, e obviamente a endometriose não acomete 90% das mulheres. Este dado fez com que o refluxo de células endometriais durante a menstruação não mais bastasse para explicar a origem da doença. A pergunta que surgiu foi o porquê de algumas mulheres com menstruação retrógrada desenvolverem a doença e outras, não!? Surgiram então as teorias atuais.
Teorias atuais
Uma das possíveis explicações é conhecida como teoria imunológica. As células que voltam através das tubas e caem na pelve deveriam ser reconhecidas pelo sistema imunológico como não próprias àquela local, depois este mesmo sistema teria o dever de destruir estas células. Talvez em mulheres que desenvolvem a doença alguma falha nos mecanismos de defesa possa acontecer e permitir que as células regurgitadas se implantem e dêem início a doença.
Outra hipótese é a que diz que o endométrio tópico, aquele que reveste o útero, possuiria algumas alterações que facilitariam que estas células, ao atingir a cavidade pélvica virem endometriose. Inúmeras alterações já foram encontradas quando comparamos o endométrio de mulheres com endometriose com o das sem a doença.
Em um futuro próximo provavelmente as duas teorias vão se juntar e explicar de forma conjunta o porquê do aparecimento da endometriose em apenas uma parcela das mulheres com menstruação retrógrada.
Ai surge a pergunta: o que acontece com estas mulheres que de repente desenvolvem uma alteração imunológica e outra na camada que reveste o útero?
Apesar dos inúmeros estudos realizados na última década a causa da endometriose ainda permanece obscura. Quanto mais peças deste enorme quebra-cabeças forem encaixadas e melhor conhecermos o porquê da doença melhor será nossa capacidade de diagnosticar e tratar de forma mais adequada as mulheres com a doença.